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sexta-feira, 12 de fevereiro de 2010

MORTIFICAÇÃO DE SÃO FRANCISCO DE ASSIS

Flagelou-se com castigos tão severos no corpo, foi demasiado rígido para consigo tanto quando tinha saúde, como quando estava doente. Nunca poupou o seu corpo. Por isso confessou, na proximidade do dia da sua morte, que pecou muito contra o irmão asno, quer dizer contra o seu corpo. (Leg 3C 14)

Francisco de Assis é simpático em muitos aspectos mas ao mesmo tempo apresenta-se-nos como uma criatura estranha e severa contra a sua própria pessoa: flagelação do corpo, o zelo excessivo que corresponde a uma visão do mundo dos nossos dias completamente diferente, centrada na cruz de Jesus Cristo.

Um excessivo dualismo: vive do conceito de que o corpo, é a parte inferior do homem onde reside o negativo e o mau. O espírito, é a parte superior do homem, que tem, portanto, que promover um movimento contrário. Tem de destruir, a assim chamada parte interior.

Hoje, quase se não pode falar à nossa juventude em mortificação. O Calvário e a Cruz, tinham para Francisco de Assis a beleza, a ternura e mortificação do sofrimento de Cristo. Francisco foi até à exaustão para o imitar.
No fim da sua vida, Francisco reconheceu que algo não estava certo. Até diz que pecou contra o corpo. Interpretando bem, vemos que continua ligado à visão do mundo dualista. Embora a imagem do burro seja bastante querida, um burro teimoso tem de ser castigado, mas não em demasia.

Francisco tinha de dar mais um passo, tinha de considerar o seu corpo como pertença da Criação de Deus, uma coisa mesmo criada por Deus, que se reflectiu, de forma especial em Jesus Cristo, “a Palavra feita Homem”, como nos recorda S. João no prólogo do seu Evangelho.
O zelo excessivo de Francisco, atraiu até aos nossos dias algo de válido para muitos jovens. Só a idade traz a sabedoria e a moderação. O válido é a decisão alegre com a qual alguém segue um objectivo. Um franciscano que não viva Francisco e o Evangelho será um triste frade que nunca se tornará santo.

Fr. José Jesus Cardoso, OFM·

CONVERSÃO DE FRANCISCO DE ASSIS

Um dos momentos mais profundos, no processo de conversão de Francisco foi, sem dúvida, o encontro com o leproso. O seu primeiro impacto, com uma pessoa totalmente desprezada na sociedade do seu tempo, por ser leproso, foi de imediata repulsa, impacto este que, depressa mudou como uma realidade vivida com dureza e amor ao próximo. Um encontro que mudou para sempre a sua maneira de ver o outro. Quem foi este leproso? Nós não sabemos e nunca vamos saber. O que sabemos é que antes Francisco sentia uma repugnância profunda pelos leprosos, depois, a repulsa tornou-se em doçura de alma e de corpo, como ele mesmo nos diz no seu Testamento. Totalmente envolvido com a mudança interior, veio o Mistério Redentor que o fere com o seu Amor Eterno, submetendo-o a uma prova maior, antes vivida de maneira natural, agora no rosto desfigurado de um leproso a prova da sua mudança; antes vivida no pecado, agora no amor divino, encontra a imagem do Cristo pregado na cruz que o deteve e o impeliu na direcção do leproso, e este o conduz novamente à essência de sua vida.

O amor é a única força, a única realidade que une aquilo que está separado, no seu caso, o Verdadeiro Amor que dá coragem de dar sentido novo às leis e as normas humanas. O Amor que dá a coragem de morrer para o outro viver. A partir daí, Francisco, torna agradáveis todas as coisas que antes lhe pareciam amargas e amargas aquelas que lhe pareciam doces.
Para Francisco este encontro selava a sua última fronteira. Não tinha mais dúvida de que Deus o tinha colocado no caminho certo. O irmão leproso não lhe era mais obstáculo para viver a sua felicidade. Estava completamente livre para amor Deus e seus irmãos, sem medos, nem preconceitos, sem se preocupar no que os outros iriam pensar ou falar, isso não importava. O mais importante era estar com o irmão desprezado, o problemático, aquele com quem ninguém quer falar ou conviver. Agora a sua companhia tornava-se-lhe agradável e completava a sua alegria interior.
É certo que o desejo mais profundo do ser humano é amar e ser amado. A busca deste desejo está na sede de amar sempre, mas só o amor verdadeiro torna a pessoa feliz. Por outras palavras, quando estamos verdadeiramente amadurecidos interiormente, deixamo-nos abrir à Vontade de Deus. Vale a pena lembrar que, “amar nos torna livres” e livres podemos amar sempre. Na verdade foi isso o que aconteceu com Francisco. Antes de se encontrar com o leproso percorreu este caminho, superando-se a si mesmo, aproximou-se e beijou-o. A partir de então com a força de Deus ficou cada vez mais humilde e venceu todos os obstáculos.
Como referi acima, nós nunca saberemos quem foi o leproso que se encontrou com Francisco. O beijo do leproso é o beijo da paz, da união, da caridade e da esperança.

Fr.José Jesus Cardoso, OFM.

 
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