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quinta-feira, 22 de março de 2007

A VIDA E A MORTE

Encarar a Vida e a Morte “de forma lúcida”, deixando ficar tudo o que partilhamos nos últimos momentos para os que cá ficam. A Vida é como uma ponte que liga duas extremidades “o nascimento e a morte) e a forma como devemos atravessar essa mesma, que definirá toda a nossa existência.
A morte é uma característica essencial do homem, como de todos os seres vivos, mas é o único que tem consciência da inevitabilidade da morte e de uma vida finita no tempo. Deste modo, a morte não se limita a um derradeiro acontecimento, mas engloba toda a vida. A vida e a morte identificam-se.
Tentarei aqui exprimir da minha experiência pessoal de 25 anos a trabalhar com doentes e onde assisti á morte de várias dezenas de Irmãos que ao longo, deste tempo foram morrendo nesta Enfermaria. Cada um é um caso. O sentido e o fim é a morte, com mais ou menos sofrimento. O coração parou e a vida finou. Todos morrem. De todas as vezes me interrogo, como será o meu fim!
Há muito que dizer sobre a morte. Para se ser feliz é preciso reconhecer que a Vida é Mistério. Pode morrer-se durante o sono, em viagem, ou simplesmente sentado numa cadeira, ou estar dias em coma. Entre nos, podemos morrer de olhos “abertos”, serenamente e acompanhados. São raros os casos que assim não acontece. Até, porque estamos dotados de estruturas de cuidados paliativos que assistem os nossos irmãos no fim da vida
Os doentes têm muitos direitos. Por isso, no fim da vida cada um de nós, pode fazer da sua morte uma lição de vida para os outros. Entre nós e nos nossos dias, vive-se uma morte solitária, escondida e despida de sentido. Devíamos ter a coragem de partilhar os nossos sentimentos com os irmãos doentes e principalmente no estado terminal. Perante a morte do outro irmão, contra a qual nada se pode fazer, senão, estar presente e manter a confiança.
Tenho apelado sempre ao médico, por uma boa prática médica de ajuda no sofrimento. A medicina, a meu ver é cada vez mais técnica. Os Hospitais mais parecem empresas, onde se valoriza a competência técnica e não o humano. A sociedade actual desenvolve níveis técnicos – científicos para melhoria de qualidade de vida – que vieram alterar radicalmente a vida do homem. Por isso o drama da morte foi alterado.
O irmão moribundo lê nos nossos olhos e vê se tem lugar no nosso coração. É através dos nossos gestos que ele vê se está a ser acolhido. Todas as situações extremas devem ser tratadas com caridade. Recordo o que alguns me disseram;” da morte não tenho medo”. Só temo o morrer. Durante estes 25 anos, aqui nesta Enfermaria da Luz, constatei, que quase todos morreram de olhos abertos e de grande dignidade. Junto de um irmão que está a morrer devemos estar com muita dignidade e, em silêncio e muito calmos a seu lado.
A morte põe um termo à vida mas não à relação. Depois da morte o rosto está marcado pelo repouso, pela paz e pela nobreza de cada um. Por mais vírgulas e pontos-e-vírgulas que ponhamos na vida, nunca somos nós quem determina o ponto final. Aqui fica o desafio: que cada um olhe para sua própria vida.
Ter fé não quer dizer não ter sentimentos, que não choremos, pelo contrário. Sofre-se ainda mais. Entre nós não há muito o sentido de dor de quem parte. Damos sempre uma maior abertura e uma maior compaixão. S. Francisco de Assis, Cantou à Irmã morte, mas os mortos só morrem quando nós os esquecemos.
Parafraseando S. Francisco de Assis podíamos dizer: “ Louvado sejas, meu Senhor, pala Irmã Vida, pela Irmã Morte” .


Fr. José de Jesus Cardoso, ofm.

1 comentários:

Anónimo disse...

Obrigada, Frei Cardoso, por esta bela reflexão sobre a Vida e a Morte.
Na minha vida, só uma vez acompanhei a morte de alguém, de uma irmã da minha comunidade. Foi nos anos que estive no Brasil, e era ainda bastante jovem na altura. Impressionou-me profundamente a maneira como as irmãs todas da casa provincial se reuniram à volta da irmã agonizante, a rezar e a cantar muito baixinho... Para mim foi inesquecível o que vivenciei naquele momento... Perdi o medo da morte. E agradeço ao Senhor da Vida ter-me proporcionado esta experiência...

 
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